Dizem que todo campeão também conta com uma parcela de sorte, e Sébastien Ogier não foge à regra.
O francês começou a etapa italiana com uma desvantagem de 14 pontos para seu companheiro de equipe, mas teve passagem livre ao título quando Evans virou um mero passageiro de seu Toyota Yaris no sábado e acabou nas encostas da montanha, sem chance de terminar o dia. Ogier ainda teve um último susto antes de completar a etapa, durante o Power Stage, porém conquistou a vitória e garantiu seu 7º título na categoria. O abandono de Evans também teve fortes consequências nas esperanças da Toyota em conquistar o troféu de construtores, permitindo o bicampeonato da Hyundai.
O EVENTO
A SS1, na quinta feira, combinava partes asfaltadas do Autodromo Nazionale di Monza e um trecho de terra pelo interior do circuito. Ogier, que precisava da vitória, foi o mais rápido do dia com uma vantagem de meio segundo para Thierry Neuville, da Hyundai.
A sexta-feira chegou acompanhada da chuva, e vários pontos do asfalto acabaram cobertos por lama, dificultando a busca por aderência (por isso, vários pilotos optaram pelos pneus de neve). Passando pela famosa curva inclinada do antigo circuito, Neuville – que já vinha com a suspensão dianteira direita danificada – não conseguiu passar por um trecho alagado e foi forçado a abandonar a prova, ficando sem chances de conquistar o título. O espanhol Dani Sordo, que assumiu a liderança do evento na SS2, fechou a sexta-feira no topo da classificação após 3 estágios liderados pelo finlandês Esapekka Lappi, da Ford. Ambos ainda receberam punições de 10 segundos por não seguirem as instruções do road book, o que deixou Ogier apenas 4 segundos atrás do líder.
A comuna de Bergamo, que fica aproximadamente 40 km de Monza, acordou no sábado com a disputa pela liderança nas montanhas da região. Além da neve – em um cenário muito parecido com Monte Carlo, o primeiro evento da temporada – o gelo se acumulava no asfalto, obrigando alguns dos pilotos (como Evans) a adotarem uma postura mais conservadora. Já Ogier, que era seguido de perto pelo galês, forçou o ritmo e voltou a figurar na ponta da classificação, com Dani Sordo em segundo. O cenário do campeonato mudou abruptamente quando Evans, ao tentar uma curva à direita no SS11, derrapou e nada pode fazer para evitar a queda na encosta da montanha, e apenas sinalizou o perigo ao adversário francês, que teve caminho livre até o final do dia para buscar a liderança. O dia foi marcado por outros dois acidentes, de Gus Greensmith (Ford) e Ole Christian Veiby (Hyundai), sendo que o segundo forçou a interrupção de um dos Special Stages.
Os pilotos voltaram ao circuito de Monza no domingo para os últimos 3 SS do evento, e Ogier apenas administrou a liderança (reduzindo sua vantagem para Ott Tänak de 25.5s para 13.9s) que lhe garantiria seu sétimo título na categoria – não sem passar por um grande susto no Power Stage, quando seus limpadores dianteiros falharam e sua visibilidade ficou seriamente comprometida por alguns segundos. Tänak e Sordo fecharam o top 3, garantindo novamente o título de construtores para a Hyundai.
Sébastien Ogier tornou-se o segundo maior campeão da história do WRC, ficando atrás apenas do conterrâneo Sébastien Loeb, com 9 títulos. Além disso, Ogier é o segundo piloto na história a ser campeão por 3 marcas diferentes – Volkswagen, Ford e Toyota -, igualando o lendário Juha Kankkunen (Peugeot, Lancia e Toyota). Outra curiosidade é que, desde 2004, somente em uma temporada um piloto francês não foi campeão: em 2019, com o estoniano Ott Tänak. Loeb venceu de 2004 a 2012, enquanto Ogier venceu de 2013 a 2018 e agora em 2020.
Ogier também já antecipou que 2021 será sua última temporada no WRC. O piloto de 36 anos projetava sua aposentadoria no final deste ano, porém a pandemia do COVID-19 alterou todo o calendário do Mundial e, aparentemente, também a mentalidade do heptacampeão, que declarou querer entregar um título de construtores à Toyota no próximo ano.
“Tifosi, um dos pacientes do dottore Rossi, tricampeão da Nascar no Playstation, maluco por WRC e em relacionamento aberto com o Mundial de Endurance” – Kaiuã é um parceiro/colunista voluntário do Tomada de Tempo e escreve sobre as mais diversas categorias de esporte a motor no Brasil e no Mundo!