Detentora de dois troféus no Capacete de Ouro – maior premiação do automobilismo nacional – apresento a vocês, para abrilhantar ainda mais a nossa seleta lista de pilotos acima da média, a piloto da principal categoria do país, Bia Figueiredo.
A piloto iniciou sua carreira no esporte – precisamente no kart – muito cedo, aos 8 anos de idade, onde permaneceu por nove anos obtendo dois vice-campeonatos: paulista e brasileiro.
Em 2003, a piloto chegou à Fórmula Renault Brasileira, se tornando a primeira mulher no mundo a vencer uma corrida de Fórmula Renault, sendo também eleita como a melhor estreante do campeonato. Bia, que tem como hobby a leitura e prática do tênis, deu suas primeiras aceleradas em sua carreira no exterior em 2008, onde disputou a Indy Lights, defendendo a equipe campeã Sam Schmidt Motorsports.
No mesmo ano conquistou sua primeira vitória, tornando-se a primeira mulher a vencer na categoria. A piloto leva consigo o portfólio de duas vitórias na Indy, uma no circuito oval de Nashville, em 2008, e outra, no circuito oval de Iowa, no ano seguinte.
Em 2010, estreou na Fórmula Indy defendendo a equipe Dreyer & Reinbold Racing, no ano seguinte migrou para a equipe Ipiranga Dreyer & Reinbold Racing. Já em 2012 disputou as provas de São Paulo e Indianápolis com a Ipiranga Andretti Autosport.
Atualmente a piloto está em sua terceira temporada na principal categoria do Brasil, a bordo de seu Peugeot 408, ela defende as cores da equipe União Química Racing. Além de tudo isso, Bia é única a conquistar uma pole position na Fórmula 3, a primeira brasileira a conquistar um lugar no grid e a disputar as 500 Milhas de Indianápolis, e por último e não menos importante a única a disputar e a vencer no Desafio das Estrelas – torneio anual de kart organizado por Felipe Massa.
Bia vem de uma família onde o pai atua como psiquiatra e a mãe como dentista, ramos totalmente diferentes do automobilismo. Iniciei o nosso bate papo perguntando a piloto, onde surgiu todo seu amor pelo esporte.
“O amor pelo automobilismo nasceu em mim. Ninguém da minha família era envolvida com automobilismo. Tive sorte de ter uma família que me apoiasse em um esporte tão predominantemente masculino”.
“É um esporte diferenciado, onde você tem que controlar uma máquina que pode chegar a quase 400km/h, ter um controle mental gigante e gostar de desafiar o tempo”.
A piloto está presente em um universo predominado por homens, porém isso vem mudando nos últimos anos, com mais mulheres no esporte. Perguntei a piloto como foi iniciar nesse mundo, e anos depois conquistar o respeito e admiração de tantos pilotos.
“Sempre sonhei em pilotar um carro de uma categoria top do automobilismo mundial. Eu sou mulher e não sou de família rica, duas barreiras para este esporte. Tive desafios na carreira toda”.
“No começo da carreira era complicado. Perdi boas vitórias e campeonatos, pois os meninos dificultavam ao máximo. Era inaceitável para eles e para os pais que seus filhos perdessem para uma mulher. Porém, isso me fortaleceu e aprendi a revidar… na pista, claro! Hoje, as coisas mudaram dentro e fora das pistas e fico feliz de ser um exemplo para que pessoas lutem pelo que desejam independente das dificuldades que encontrarem”.
Os monopostos mais rápidos do mundo exigem do piloto outro estilo de pilotagem – o que diferencia das categorias de Turismo – sendo sua primeira diferença expressiva, é a pista, a categoria corre em ovais. Após sua passagem na Indy, Bia retornou ao Brasil e estreou na principal categoria do país, perguntei a piloto, quem a ajudou nessa adaptação e como foi sua experiência nesse retorno ao Brasil.
“Engraçado, pois algumas pessoas acham que ter trocado a Indy pela Stock Car é ter ‘descido um degrau’, mas fiquei empolgada com o convite de correr no Brasil. Na minha época, o grande sonho dos pilotos era chegar à F1 e Fórmula Indy. Dos 30 pilotos que corri por anos nas categorias de base, somente 4 chegaram lá, sendo eu um deles. A Stock Car realiza sonhos e gosto disso”.
“O automobilismo é ainda uma grande paixão dos brasileiros. Obviamente com a crise e custos altos que envolvem o automobilismo, estamos sofrendo muito nos últimos 2 anos. Mas temos muito a evoluir, tanto no crescimento e desenvolvimento de novos pilotos, como nos eventos nacionais e também na estrutura de nossos autódromos. O público precisa voltar a ir para os autódromos em grande peso como antigamente e acho que ter uma mulher na pista atrai um público diferente. Neste último final de semana, tivemos a etapa de Curvelo, foi fantástico ver aquele autódromo lotado”.
“A Indy é deslumbrante, mas a Stock Car tem pontos até mais fortes que a Indy, ambas são grandes categorias.Tenho um ótimo relacionamento com todos na pista e os veteranos sempre me ajudaram. O Rubens Barrichello é um dos que me deu mais apoio na categoria”.
Recentemente, podemos perceber um aumento significativo de mulheres migrando para automobilismo, em especial no kart. E posso dizer com propriedade, andam na mesma casa que nomes que já pilotam a muito tempo. Continuei o bate papo com uma pergunta bem interessante, perguntei a piloto de que forma ela acredita influenciar a nova geração de pilotos do sexo feminino, e como a sua experiência adquirida em todos esses anos de carreira influencia nessa missão.
“O mundo está mudando. Hoje, temos mulheres competindo em categorias de base no automobilismo. Torço muito por elas e peço que foquem 100% no automobilismo e não desistam nunca”.
“Falar sobre este tema – como você está fazendo agora, por exemplo – já é uma maneira de incentivar. Eu cheguei ao topo do automobilismo, disputei temporadas da Fórmula Indy, por isso, tenho certeza que logo teremos outras brasileiras na disputa também. Hoje o FIA Women investe em campeonatos só com mulheres, para incentivar a participação de mais mulheres no automobilismo, acho uma iniciativa bacana”.
“Eu sempre corri com homens e me acostumei assim. Já que consegui vencer correndo em igualdade com eles, não vejo o porquê de competir só com mulheres. Isso vai muito de encontro à igualdade dos gêneros. Nós mulheres podemos competir de igual para igual com homens. E podemos, inclusive, vencer”.
Finalizando o nosso bate papo, perguntei a Bia, quais são suas aspirações para a próxima temporada e se a piloto pretende retornar a pilotar internacionalmente.
“Atualmente, o meu foco é 100% a Stock Car, mas sempre avalio oportunidades internacionais. Hoje é comum pilotos correrem em várias categorias”.
Porém antes de encerrar, gostaria de dar meu parecer sobre a mulher no automobilismo, acredito muito e apoio a causa de uma maneira incrível, por vários motivos.
Analisando alguns nomes que estão em atividade hoje, podemos perceber que elas pilotam no mesmo nível que os homens, o que para mim seria o primeiro motivo. Outro motivo que posso citar é realmente confirmar, como a própria Bia disse, sobre o público.
Em Londrina – etapa na qual acompanhei de perto – pude perceber que muitas mulheres foram até o box da piloto, da mesma forma muitos homens também a parabenizaram pelo trabalho. O que acredito ser muito válido. Vale lembrar que a piloto deu um show em Londrina, no retorno da categoria ao norte do Paraná. A cada ultrapassagem as estruturas chegaram a “balançar” com a vibração do público no saudoso autódromo Ayrton Senna.
Realmente deve existir a participação de várias outras mulheres nos grids de categorias nacionais e internacionais. A competência e nível de pilotagem a muito tempo são equivalentes, muitas vezes superior. Devemos SIM, respeitar e também incentivar os novos talentos femininos. E claro, não podemos esquecer, elas são responsáveis por deixarem o esporte ainda mais bonito.
E assim encerro nosso bate papo, agradecendo a Bia que dedicou um tempinho para conversar conosco, a Mariana Franceschinelli que foi importantíssima para o sucesso dessa matéria. Sucesso a piloto, que ela possa sempre repetir ótimas atuações nas pistas, e claro, influenciar novas mulheres a buscar esse sonho, se espelhando na pessoa em que a piloto se tornou.
Tomada de Tempo, aqui a sua notícia é pole position.
Aspirante a escritor e futuro piloto, tenho uma admiração muito grande por Ayrton Senna, Rubens Barrichello e Jeff Gordon. Entusiasta de categorias como: Fórmula Truck, Stock Car, NASCAR, DTM, V8 australiana, entre outras. – Cardoso é um parceiro/colunista voluntário do Tomada de Tempo e escreve sobre as mais diversas categorias de esporte a motor no Brasil e no Mundo!